sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Cânons "pessoais", forças cósmicas e dialética- entre o misticismo e a mistificação



Separados na maternidade: Savitar e seu "duplo" visual da "casa das idéias" ( Marvel Comics), Lorde Pandemonium



Mark Waid parece ter criado outro análogo alquimista de Savitar e Mestre Pandemônio com o vilão Megistus da sua fase em Brave and the Bold.O visual ridículo parece ser proposital e repleto de nuances metafictícionais, talvez, ao próprio Waid.

Claro que todos os vilões acima espelham a fonte primária que era Esteban Diablo o alquimista maligno do universo Marvel



Awk-Waid treatment. Por causa de um debate que estou tendo nesse momento com o Fandom Tolkieniano ao mesmo tempo em que converso com um amigo estava tendo minhas memórias reavivadas sobre a linha tênue que medeia entre Cânon pessoal, Cânon e Intenção Autoral .

Outro caso interessante discutido

Estamos revisando a Bíblia da Supervelocidade no Universo DC, o subuniverso dos Flashes, e vendo se havia ou não "Grimórios" escritos a respeito do assunto. As nossas visões discrepantes , frequentemente, dependem de uma análise retroativa de certas coisas. À medida em que nos aprofundamos,todavia, mais e mais fico com a minha convicção reforçada em alguns tópicos.

a)A memória das pessoas é sempre uma coisa traiçoeira, inclusive a nossa, confiar nela e em "vista de olhos" para se avaliar presença ou ausência de certas coisas é atitude que leva a muitos e repetidos erros.

b) Asssim como acontece com coisas como a atitude de JRRT em relação às recém discutidas "asas dos balrogs" autores de HQ também, voluntariamente ou não ( podem ocorrer censuras,decretos editoriais que mudam uma história em media res), às vezes, deixam certas matérias para serem lidas à escolha do freguês, eles, frequentemente, dão tiro para todos os lados como se quisessem cooptar todo tipo de perspectiva ou "crença particular".

Casos assim acontecem o tempo todo e até autores com relativa liberdade criativa parecem ser vítimas de reinterpretações retroativas das próprias histórias ainda no meio delas: Macbeth parece ter um evento assim , com a súbita e inexplicada mudança de consciência de Lady Macbeth, e o mesmo parece ter acontecido vezes sem conta com autores diversos como Tolkien, Rowling, Lloyd Alexander, Clamp, Neil Gaiman, Phil Jimenez, e outros tantos só para ficar naqueles casos que estão mais frescos na minha memória. Então percepções variantes sobre o que estava de fato mesmo acontecendo em uma trama podem variar até porque partes de uma história parecem ser norteadas hora por um paradigma e uma intenção autoral hora por outro completamente diferente e nem sempre a colagem delas resulta em algo homogêneo por mais esforço e competência que o autor tenha. Se até Shakespeare pecou no quesito plausibilidade em fazer a mentora intelectual do crime da peça, de repente, aparecer aniquilada pelo remorso que podemos esperar de outros artistas "menores"? Claro que teremos , inevitavelmente, N respostas de cânons pessoais para explicar o arrependimento da Lady. E, sem dúvida, que nem todas seriam sonhadas sequer pelo Bardo Inglês. O que nos leva ao ponto C.

c)Assuntos controversos dentro do cânon sempre dão margens à variantes e cânons pessoais conflitantes e /ou fânons e, em universos ficcionais compartilhados, o que se tem é sempre uma permutação entre essas coisas. O cânon pessoal de um fã pode, dali a dez anos, ser transformado em cânon, se tornando a leitura "oficial" sobre o dito assunto controverso e isso pode ou não estar de acordo com a vontade do autor original, mas isso, no fim pouca importância terá, porque ele próprio, numa medida ou outra, terá feito a mesma coisa com seus predecessores no título. Essa é a beleza e/ou a maldição dos universos ficcionais compartilhados feitos como ficção serializada ao longo de décadas.Aceitar essa verdade e ,talvez, até mesmo flexibilizar um pouco nossos personal canons faz parte do processo de se curtir com deleite a leitura dessas coisas.

Quando isso não é mais possível acho que o mais recomendado é parar de ler. É o que faço e farei até segundas ordens com meus personagens favoritos do DCU, os Titãs. Enquanto suas histórias estiverem ruins e distando em demasia do meu "canon pessoal" não lerei NADA e estarei muito mais feliz me esbaldando com Rebels e as "vrilanias" de Vril Dox, AKA Brainiac II.

No caso de Mark Waid, nessa saga um tanto "awk-waid" se me permitem o intended pun, do vilão speedster caído Out of the blue through retcon aditivo, Savitar, ele( o autor), toda hora, coloca alguns personagens conjecturando sem prova ou evidência conclusiva que a Força, digo a Speed Force, não é senciente mas , constantemente, dá mostras de que a coisa pode não ser tão simples assim, criando,propositalmente, um "cisma" doutrinário a respeito do assunto, com hints e teasers meio que contraditórios na mesma história o tempo todo. E depois dela também. Eu e meu amigo estávamos na dúvida se existiam os tais grimórios, ele foi reler os gibis e disse que não, que eu estava enganado em dizer que Jesse Quick havia mencionado sua presença no castelo de Savitar.

fui lá olhar a origem do Savitar... E não foi Jesse quem disse a origem dele, foi Linda. E ela tava lendo um diário antigo do Max. E a palavra usada não era Grimoires, era Volumes!

Intrigado, porque tinha certeza absoluta de que não tinha imaginado os tais grimoires, e também não tinha dito que era na hora em que se contava a origem do personagem com cara de vilão canastrão "latrino"* fui lá(pela segunda vez) e peguei os comics e confirmei: autênticos ou não eles existem mesmo, são grimórios, livros e pergaminhos e foram mencionados pela tal personagem, sendo que, logo depois, já veio o "voice of god putativo", Max Mercury, dizendo que ele acha que os tais livros são fajutos, forjados pelo vilão Savitar. Se foi mesmo o caso ele realmente deve ter tido um tremendo trabalho ao ponto de forjar escritos em pergaminho... Pra mim fica a impressão constante que o Max Mercury tem é inveja do Savitar assim como ele tem inveja do Wally mas isso é meu "canon pessoal".

*Savitar era cubano e em tudo lembra o estereótipo do latino que bate em mulher, judiando da panguá dominada vítima "amorosa" de Wally(mais uma)Lady Savitar, lembrando o filme do Almodóvar, Carne Trêmula: "é ele conheço seu jeito de esmurrar portas...)





Conclusão: Mark Waid ,assim como Tolkien no esquema dos balrogs, toda hora dá margem à dupla interpretação sobre o mesmo assunto e de um modo que parece proposital. Entretanto, como acontece sempre na mídia das HQs, o pêndulo que uma hora pende pra um lado oscila para outro e a interpretação "científica-agnóstica-ateísta" da matéria da Speedforce agora cedeu espaço para a outra Mística/Teísta. Para a agonia de muitos. O lance é que , no meu entendimento, por causa da dicotomia exemplificada nesses dois quadros, a saga original dava mesmo margem aos dois raciocínios e , no meu modo de ver, ambos podem estar corretos, contraditórios e complementares como muita coisa por aí.

A impressão que fica é que Waid tinha muito mais coisa planejada para explorar o potencial do vilão e que ele foi vítima de uma "abortagem" compulsória ordenada pela DC. A história do Savitar tinha todo o jeito que era o começo de uma investigação retroativa de uma "linhagem" de speedsters no DCU no rumo do passado á la Alan Moore no Monstro do Pântano e sua monumental construção da dinastia dos Elementais "Eternal Champion" onde ele fez mitologia comparada, world building,crítica literária e história das HQs ao mesmo tempo. Impossibilitado de fazer isso e obrigado a dar um sumiço a la trapdoor de JMS no B5 no personagem do Savitar sumindo com ele de um jeito beeemm Deus Ex Machina o Waid parece ter tomado o sentido oposto. Explorar a dinastia da Speedforce no rumo do Futuro e para isso criou o conceito "out of the blue" do Cobalt Blue mas isso é uma outra história que por enquanto aqui só vai receber um "flash".

Voltando ao Savitar ele parece ser mais um dos vilões desperdiçados como Lady Macbeth, Circe, Shim'tar,Verônica Cale na Wonder Woman, Agamemnon no Hulk do Peter David, Flagelo e o novo Irmão Sangue nos Titãs, vítimas de processos litigiosos de divórcio ou partilha resultante de divergência entre co-autores, autor-editora, ou autor-editor que vivem acontecendo por aí, onde histórias são abandonadas, coisas acontecem off-panel, trapdoors se abrem e cânons pessoais surgem para tapar os buracos.

E aí como ficamos? Speedforce é senciente ou só "combustível energético", Savitar era um profeta diabólico "anticristo" para o "messias" Flash ou só um Jimmy Swaggart ou Tim Tones da Speedforce? Lady Macbeth, a famigerada Lady Gruoch, era a víbora manipuladora do início da peça ou uma presa contrita cativa na sua própria teia cujos processos mentais rolam numa "peça" não escrita, paralela aos eventos que Shakespeare mostrou?

A resposta provável, pra variar, parece aquele famoso provérbio hobbit feito em relação aos elfos:

Go not to the elves for counsel, for they will say both yes and no.

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